segunda-feira, 21 de outubro de 2013

MASSACRE DE OUTUBRO DE 1963 IPATINGA

A USIMINAS, O MASSACRE E A POLÍCIA MILITAR
·         Artigo publicado no jornal Diário do Aço – edição de 20/10/2013, página 2

Confesso que a Audiência Pública, realizada na Câmara Municipal de Ipatinga, capitaneada pela vereadora Lene Teixeira, instigou-me a aquilatar até que ponto a Polícia Militar de Minas Gerais e a USIMINAS poderiam ser responsabilizadas pelas mortes dos operários.
As opiniões, os posicionamentos e as teorias sobre o episódio do massacre, espraiaram-se em vertentes diversas: de ponderações de cunho sociológico a manifestações emotivas, cunhadas pelo sofrimento de quem teve sua vida vinculada ao fato. Chegou-se a pedir a remoção do busto do general Costa e Silva de uma praça pública de Ipatinga e a mudança do nome da Avenida Magalhães Pinto, sob o argumento de que seriam pessoas integrantes do esquema de poder que organizara o golpe de 1964.
Leitura esclarecedora encontrei no livro “O massacre de Ipatinga: Mitos e Verdades”, da escritora Marilene Tuler, no qual a escritora prospecta, organiza cronologicamente os fatos, identifica os atores e seus papeis e adota a metodologia de pesquisa denominada “Análise do Discurso”, o que dá idoneidade à obra.  
Nas considerações finais de Marilene, percebi uma sintonia com a maioria das opiniões e teses apresentadas na audiência pública. Pareceu-me haver um consenso construído em torno de que: a violência imperou porque houve “despreparo dos policiais em lidar com confrontos de rua”; os idealizadores da USIMINAS, por ideologia da época, deram primazia ao capital (construção da Usiminas) em detrimento das “condições de vida da classe trabalhadora”; o governo de Minas, a Usiminas e a PMMG desconstruíram o fato histórico do massacre, por meio da imposição de um “silenciamento” ao povo de Ipatinga sobre o episódio de 07 de outubro de 1963.
O SINDIPA foi apontado também responsável pela manutenção do véu da ignorância, uma vez que essa organização sindical se marcou “pela submissão” e ausência de “confrontos com a direção da empresa”.
Seria ingênuo acreditar que as instituições militares sejam destituídas de ideologia política. Muito menos que não as tenham as empresas, principalmente as estatais, cujos dirigentes são escolhidos por quem representa o poder vigente. As instituições, porém, não são coisas personificadas: suas almas são flutuantes porque se desenham conforme o espírito de quem as dirige. Instituições são ficção, mas os efeitos que produzem pela atuação de seus dirigentes são reais; às vezes injustos e cruéis.
Irrelevante, se havia ou não comunistas infiltrados nos movimentos dos operários da Usiminas nos idos de 1963. Como afirma Marilene, isso é “um mito construído para inocentar os militares”. Nada justifica apontar uma metralhadora “ponto 30” –arma de guerra – para uma multidão de pessoas desarmadas.
Sobre os militares envolvidos e os vigilantes da Usiminas, vem à mente as ponderações de SARAMAGO, quando cria no “Evangelho Segundo Jesus Cristo” o ponto de vista do soldado romano encarregado por Herodes de assassinar as crianças em Belém: “Muito desgraçados somos nós, que não nos chega praticarmos a parte de mal que nos coube por natureza, e ainda temos de ser braço da maldade de outros e do seu poder”.  O soldado, o vigilante e, às vezes, o empregado nada mais são do que o instrumento da maldade daquele que está no poder. Isso, todavia, não lhes retira a responsabilidade pelos atos que praticaram.
Penso que, ao invés de silenciarem sobre o ocorrido, melhor seria que a PMMG e a USIMINAS, a exemplo do que fez o Papa João Paulo II, que formalmente pediu perdão “pelas iniquidades cometidas pela Igreja Católica em sua história”, reconhecessem os excessos e pedissem desculpas pela histórica falta.



Jorge Ferreira S. Filho. Advogado - Articulista. E-mail professorjorge1@hotmail.com