segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

CICERO E A CORRUPÇÃO

 
foto crédito - Ricardo Stuckert
CÍCERO E A CORRUPÇÃO
*Artigo publicado no Jornal Diário do Aço em 19/12/2014

Cícero teve um triste fim. Fugindo de Roma para a Macedônia, fora alcançado por soldados enviados por Marco Antônio. Colocando a cabeça para fora da liteira, foi degolado pelo Centurião Herênio. Ainda por ordem de M. Antônio, suas mãos foram decepadas e juntamente com a cabeça remetidas à Roma. Cabeça e mãos foram “pregadas sobre o rostro”, uma espécie de tribuna, usada pelos oradores de Roma. Tudo exposto ao público. A sua língua fora atravessada por um alfinete. Um vitorioso deboche contra aquele que, por toda uma vida, bradou e vociferou contra os corruptos e corruptores na então defenestrada Roma do Século I, antes de Cristo.
A narrativa acima é uma síntese dos escritos da britânica Taylor Caldwell, extraído de seu livro “Cícero - Um Pilar de Ferro”. Tendo como fundo a história da vida do advogado, filósofo, moralista e político Marco Tulio Cícero, Cadwell investiga, quase como uma socióloga, documentos encontrados na biblioteca do Vaticano, principalmente as cartas entre Júlio César e Cícero. Resultou numa brilhante teoria quanto à gênese, substância e forma do demônio da corrupção.    Não se lhe pode negar o viés psicanalítico, pois disseca os espíritos daqueles que corrompem e dos que são corrompidos. Descreve os corruptores do corpo e os da alma. Aqueles são os que visam a desonesta riqueza. Estes os que almejam, pela mentira, farsa e destruição da imagem alheia, alcançar o poder político.
Com sarcasmo e prudência, a escritora prefacia seu livro dizendo que a “qualquer semelhança entre as Repúblicas de Roma e dos Estados Unidos da América é puramente histórica”.
Sobre a corrupção, Caldwell narra um diálogo entre Sila, o ditador de Roma, e o advogado Cícero. Sila, criticado por Cícero por sustentar uma ditadura, desabafa dizendo que não teria entrado em Roma se pelo menos um cidadão romano corajoso o tivesse interpelado nos portões da cidade. Não se julgava “a imagem da ditadura, mas o reflexo do que o povo merecia”, dizendo ainda que “havia uma lei inexorável e superior a tantas criadas”: “a lei da morte para as nações corruptas”. Isso me instigou perguntar: a nação brasileira seria corrupta?
Não me esqueço do Presidente Lula, em foto reproduzida nos principais jornais, abraçando simbolicamente o prédio da sede da Petrobrás no Rio de Janeiro. Fato ocorrido em 15/09/2014, no calor da campanha eleitoral, quando, então, muitos estavam obcecados com a destruição da imagem de Marina Silva.
Muitas águas rolaram. Hoje, nem o mais ingênuo desacredita na corrupção havida na Petrobrás nem que essa se tenha exacerbado nos governos Lula e Dilma. Exatamente com o PT, o partido cuja bandeira ostentara as estrelas da ética e da moralidade na política.
Aqui e ali, a cada dia, em todas as entidades federativas, surgem novas notícias sobre a corrupção. Parece intencional. Banalizar o fato para atenuar os efeitos. Induzir que “só não é corrupto no Brasil, aquele que não teve a oportunidade”. Dizer que nos governos tucanos também ocorreram corrupções (fato inquestionável).
Tudo errado. A maioria é honesta e bem intencionada, mas tem sido omissa. Precisa ser despertado novamente aquele gigante que ensaiou passos alguns meses antes da Copa do Mundo.
Concluindo, destaco que, maldosa e maquiavelicamente, o governo tem sofismado e tenta criar na mente da pessoa simples a falsa ideia de que tenha sido ele o Deus que permitiu revelar a corrupção.  Não! Foram as instituições amadurecidas e fortalecidas no seio de uma sociedade democrática que permitiram a investigação e divulgação dos fatos.

Jorge Ferreira S. Filho. Advogado - Articulista. E-mail professorjorge1@hotmail.com