sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

BRASIL - SEGUNDO TEMPO

BRASIL: SEGUNDO TEMPO.
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                          *  Artigo publicado no Jornal Diário do Aço – 16/12/2015, pag. 02.

Em 2006, Aloizio Mercadante publicou seu livro “Brasil – Primeiro Tempo”, cujo objetivo era comparar os resultados econômicos e sociais do Governo Lula com os dos governos anteriores. Com as recentes divulgações dos indicadores econômicos e sociais, instigou-me perguntar se Mercadante, depois de 13 anos de governo petista, ainda sustentaria suas conclusões. Vamos lá!
Mercadante escreveu: “Ao final desse primeiro tempo, podemos dizer com orgulho que reconstruímos com consistência as bases de um crescimento econômico sustentável e começamos a mudar o padrão histórico de concentração de renda, riqueza e poder que marca uma longa e perversa trajetória de exclusão social de amplas parcelas de nosso povo”.
A real situação econômica e social do Brasil de 2015 contrasta o raciocínio exposto, mas, há no livro uma consideração honesta. Trata-se da confissão do escritor lamentando que erros foram cometidos no “esforço de reconstrução do Brasil”, assim dizendo: “o mais grave foi errar naquilo em que não tínhamos o direito de errar: o império da ética”. Verdade! O PT afastou-se de sua bandeira moral, que era o discurso ético a ensejar que haveria uma pratica ética no comportamento político.
Os líderes do PT ficaram apenas com o discurso ético, e, com isso, comprometeram aquilo que poderia efetivamente resgatar dívidas sociais históricas do nosso Brasil, tal como a sustentabilidade dos meios para distribuição da riqueza e redução da desigualdade. Como isso ocorreu?
Sob a rubrica “Criação de Condições para o Crescimento Sustentado” (Capítulo 5), Mercadante apregoa que Lula “iniciou seus trabalhos com a ameaça da desorganização da economia nacional e uma herança de severas restrições estruturais”. Elogiou o crescimento de 4,9% da economia em 2004, como o melhor resultado dos últimos 10 anos, e reconheceu que as principais causas para esse êxito foram as exportações, a produção de bens de capital e de bens de consumo duráveis. Como causas, “em menor medida”, desse êxito, ele elencou os aumentos do salário e do consumo das famílias. Exaltou a meta ambiciosa de 4,5% para a inflação de 2005, dizendo-a compatibilizadora entre o crescimento econômico e a estabilidade de preços.
Faltou dizer que as exportações, grande motor do governo Lula, foram um presente. Um fator externo que ajudou nossa economia, mas que não decorreu concretamente de nenhum ato governamental. E agora! Inflação alta, desemprego, industrias fechando, salários atrasando, falta de perspectivas, uma sociedade dividida, uma juventude alienada e descompromissada com a ética.
Reconheço em Lula seu forte pragmatismo: “sem alianças nunca ganharemos as eleições”. Entretanto, aliar-se com aqueles que o PT tanto combateu (Sarney, Maluf, Collor, Renan Calheiros etc.) não é pragmatismo. Trata-se de esperteza, assim como também o é mentir ao povo para ganhar eleições.



Jorge Ferreira S. Filho. Professor. Conselheiro do Instituto dos Advogados de Minas Gerais – IAMG. E-mail professorjorge1@hotmail.com