quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Umberto Eco

O QUE MORRE COM UMBERTO ECO?

·         Artigo publicado no Jornal Diário do Aço; edição de 24/02/2016; página 02 e no Portal Carta de Notícias

O romance “O Nome da Rosa” e o filme de mesmo nome, protagonizado por Sean Connery, popularizaram mundialmente o eclético escritor Umberto Eco.  Faleceu na sexta feira (19/02/2016) e a notícia de sua morte fez-me viajar pela minha memória e lembrar quanto esse escritor influenciou-me na vida acadêmica.    
São muitas as suas geniais obras, tais como “O Pêndulo de Foucault” e “O Cemitério de Praga”, mas a que mais me marcou foi sem dúvida sua obra técnica Como si fa una tesi de láurea. Um livro quase “de bolso”, mas uma bíblia em conteúdo. Na introdução, na qual ECO disseca criticamente o modelo da universidade italiana dos anos 70, por ele definida como “uma universidade de massa”, já se tem um texto imperdível.
O escritor percebeu o modelo social da universidade italiana anterior como uma “universidade de elite”. Os alunos normalmente dispunham de tempo integral para o estudo e originavam-se de famílias que também passaram pelas mesmas salas de aula. As lições “consistiam de prestigiosas conferências” seguidas de conversas entre o professor e grupo de alunos, formatando um ambiente de sadio debate.
Em contraste, na universidade de massa, os alunos eram egressos de todas as classes sociais e diferentes perfis de cursos secundário. Milhares de alunos inscritos.  Verdadeiros auditórios para realização de aulas, sendo que o professor mal podia se lembrar de “uns trinta mais assíduos”. No conjunto, havia alunos de boas condições socioeconômicas e outros que trabalhavam o dia inteiro ou eram muito pobres. Estes se perfilavam como estudantes “a quem nunca se explicou como procurar um livro na biblioteca” nem informação alguma recebera sobre onde e como buscar outras bibliotecas. Todos, porém, para conclusão do curso deveriam escrever a TESE (monografia, dissertação etc.). Dessa preocupação com a conjuntura da universidade de massa é que nasceu o livro destinado a ensinar aos alunos, numa linguagem direta, mas profunda: o que é uma tese; como escolher o tema da pesquisa; como organizar o tempo para o trabalho; como empreender a pesquisa bibliográfica; como organizar os dados; e, finalmente, como fazer a redação do texto.
Sobreveio a Internet. Disso resultou a democratização do acesso à informação científica. Nasceram também as facilidades do plágio e da manipulação das notícias de conteúdo político, tendo as Redes Sociais produzido, na visão do professor Umberto Eco o “idiota de aldeia”. Pessoas intolerantes e agressivas, donas da verdade ou os “pequenos profetas de plantão”, como as classifica o professor João Cezar de Castro Rocha.
No seu último livro “Número Zero”, Eco expõe sua decepção com a política e a sociedade italianas, fundadas em reflexões que se ajustam ao Estado brasileiro. Vai com ele a polêmica advertência no sentido de que intelectual não deve ser o motor da revolução, pois as revoluções com esse berço seriam “sempre perigosas”.   



Jorge Ferreira S. Filho. Articulista. Advogado. Membro do Conselho Superior do Instituto dos Advogados de Minas Gerais – IAMG. E-mail professorjorge1@hotmail.com