*Artigo publicado no Jornal
Diário do Aço em 19/12/2014
Cícero teve um
triste fim. Fugindo de Roma para a Macedônia, fora alcançado por soldados
enviados por Marco Antônio. Colocando a cabeça para fora da liteira, foi
degolado pelo Centurião Herênio. Ainda por ordem de M. Antônio, suas mãos foram
decepadas e juntamente com a cabeça remetidas à Roma. Cabeça e mãos foram
“pregadas sobre o rostro”, uma espécie de tribuna, usada pelos oradores de Roma.
Tudo exposto ao público. A sua língua fora atravessada por um alfinete. Um vitorioso
deboche contra aquele que, por toda uma vida, bradou e vociferou contra os
corruptos e corruptores na então defenestrada Roma do Século I, antes de
Cristo.
A narrativa
acima é uma síntese dos escritos da britânica Taylor Caldwell, extraído de seu livro
“Cícero - Um Pilar de Ferro”. Tendo como fundo a história da vida do advogado,
filósofo, moralista e político Marco Tulio Cícero, Cadwell investiga, quase como
uma socióloga, documentos encontrados na biblioteca do Vaticano, principalmente
as cartas entre Júlio César e Cícero. Resultou numa brilhante teoria quanto à
gênese, substância e forma do demônio da corrupção. Não se lhe pode negar o viés psicanalítico, pois disseca os
espíritos daqueles que corrompem e dos que são corrompidos. Descreve os corruptores
do corpo e os da alma. Aqueles são os que visam a desonesta riqueza. Estes os
que almejam, pela mentira, farsa e destruição da imagem alheia, alcançar o
poder político.
Com sarcasmo e
prudência, a escritora prefacia seu livro dizendo que a “qualquer semelhança
entre as Repúblicas de Roma e dos Estados Unidos da América é puramente
histórica”.
Sobre a
corrupção, Caldwell narra um diálogo entre Sila, o ditador de Roma, e o
advogado Cícero. Sila, criticado por Cícero por sustentar uma ditadura, desabafa
dizendo que não teria entrado em Roma se pelo menos um cidadão romano corajoso
o tivesse interpelado nos portões da cidade. Não se julgava “a imagem da
ditadura, mas o reflexo do que o povo merecia”, dizendo ainda que “havia uma
lei inexorável e superior a tantas criadas”: “a lei da morte para as nações
corruptas”. Isso me instigou perguntar: a nação brasileira seria corrupta?
Não me esqueço
do Presidente Lula, em foto reproduzida nos principais jornais, abraçando
simbolicamente o prédio da sede da Petrobrás no Rio de Janeiro. Fato ocorrido
em 15/09/2014, no calor da campanha eleitoral, quando, então, muitos estavam
obcecados com a destruição da imagem de Marina Silva.
Muitas águas
rolaram. Hoje, nem o mais ingênuo desacredita na corrupção havida na Petrobrás
nem que essa se tenha exacerbado nos governos Lula e Dilma. Exatamente com o
PT, o partido cuja bandeira ostentara as estrelas da ética e da moralidade na
política.
Aqui e ali, a
cada dia, em todas as entidades federativas, surgem novas notícias sobre a
corrupção. Parece intencional. Banalizar o fato para atenuar os efeitos.
Induzir que “só não é corrupto no Brasil, aquele que não teve a oportunidade”. Dizer
que nos governos tucanos também ocorreram corrupções (fato inquestionável).
Tudo errado. A
maioria é honesta e bem intencionada, mas tem sido omissa. Precisa ser
despertado novamente aquele gigante que ensaiou passos alguns meses antes da
Copa do Mundo.
Concluindo,
destaco que, maldosa e maquiavelicamente, o governo tem sofismado e tenta criar
na mente da pessoa simples a falsa ideia de que tenha sido ele o Deus que
permitiu revelar a corrupção. Não! Foram
as instituições amadurecidas e fortalecidas no seio de uma sociedade
democrática que permitiram a investigação e divulgação dos fatos.