O QUE MORRE COM
UMBERTO ECO?
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Artigo
publicado no Jornal Diário do Aço; edição de 24/02/2016; página 02 e no Portal
Carta de Notícias
O romance “O Nome
da Rosa” e o filme de mesmo nome, protagonizado por Sean Connery, popularizaram
mundialmente o eclético escritor Umberto Eco. Faleceu na sexta feira (19/02/2016) e a
notícia de sua morte fez-me viajar pela minha memória e lembrar quanto esse escritor
influenciou-me na vida acadêmica.
São muitas as suas
geniais obras, tais como “O Pêndulo de Foucault” e “O Cemitério de Praga”, mas
a que mais me marcou foi sem dúvida sua obra técnica Como si fa una tesi de láurea. Um livro quase “de bolso”, mas uma
bíblia em conteúdo. Na introdução, na qual ECO disseca criticamente o modelo da
universidade italiana dos anos 70, por ele definida como “uma universidade de
massa”, já se tem um texto imperdível.
O escritor
percebeu o modelo social da universidade italiana anterior como uma
“universidade de elite”. Os alunos normalmente dispunham de tempo integral para
o estudo e originavam-se de famílias que também passaram pelas mesmas salas de
aula. As lições “consistiam de prestigiosas conferências” seguidas de conversas
entre o professor e grupo de alunos, formatando um ambiente de sadio debate.
Em contraste,
na universidade de massa, os alunos eram egressos de todas as classes sociais e
diferentes perfis de cursos secundário. Milhares de alunos inscritos. Verdadeiros auditórios para realização de
aulas, sendo que o professor mal podia se lembrar de “uns trinta mais
assíduos”. No conjunto, havia alunos de boas condições socioeconômicas e outros
que trabalhavam o dia inteiro ou eram muito pobres. Estes se perfilavam como
estudantes “a quem nunca se explicou como procurar um livro na biblioteca” nem
informação alguma recebera sobre onde e como buscar outras bibliotecas. Todos,
porém, para conclusão do curso deveriam escrever a TESE (monografia, dissertação
etc.). Dessa preocupação com a conjuntura da universidade de massa é que nasceu
o livro destinado a ensinar aos alunos, numa linguagem direta, mas profunda: o
que é uma tese; como escolher o tema da pesquisa; como organizar o tempo para o
trabalho; como empreender a pesquisa bibliográfica; como organizar os dados; e,
finalmente, como fazer a redação do texto.
Sobreveio a Internet.
Disso resultou a democratização do acesso à informação científica. Nasceram também
as facilidades do plágio e da manipulação das notícias de conteúdo político,
tendo as Redes Sociais produzido, na visão do professor Umberto Eco o “idiota
de aldeia”. Pessoas intolerantes e agressivas, donas da verdade ou os “pequenos
profetas de plantão”, como as classifica o professor João Cezar de Castro
Rocha.
No seu último
livro “Número Zero”, Eco expõe sua decepção com a política e a sociedade
italianas, fundadas em reflexões que se ajustam ao Estado brasileiro. Vai com
ele a polêmica advertência no sentido de que intelectual não deve ser o motor
da revolução, pois as revoluções com esse berço seriam “sempre perigosas”.
Jorge
Ferreira S. Filho. Articulista. Advogado. Membro do Conselho Superior do Instituto
dos Advogados de Minas Gerais – IAMG. E-mail professorjorge1@hotmail.com
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