* Matéria de minha autoria publicada no jornal Diário do Aço de 04/01/2014.
Foto do arquivo GOOGLE
CRIMES VIOLENTOS CONTRA A VIDA NA RMVA
Presenteou-me
o jornalista Alex Ferreira com uma pesquisa sobre os crimes violentos contra a
vida; homicídios e um caso de duplo suicídio. O período pesquisado compreende
os anos 2012 e 2013. O local investigado é a Região Metropolitana do Vale do
Aço: Coronel Fabriciano, Ipatinga,
Santana do Paraíso e Timóteo. Trata-se de um meticuloso trabalho, com nome e
idade da vítima, além do local da ocorrência da morte. Merece destaque o fato
de estar incluído na lista enviada os casos em que as vítimas de atos violentos
morreram posteriormente nos hospitais e também o registro das mortes praticadas
em “legítima defesa”.
Debrucei-me
sobre os dados. Talvez ali encontrasse a resposta para a pergunta assim
formulada: Se no governo Lula-Dilma tantas pessoas saíram da pobreza, não seria
natural que a violência, na forma de homicídios, sofresse uma redução? Bem!
Vamos aos primeiros números.
Ano 2013
|
Ano 2012
|
Resultado
|
Variação
|
|
Ipatinga
|
55
|
58
|
Redução
|
- 5,17%
|
Cel Fab
|
54
|
48
|
Aumento
|
12,50%
|
Timóteo
|
16
|
11
|
Aumento
|
45,40%
|
Santana
|
16
|
6
|
Aumento
|
166,60%
|
Vale Aço
|
141
|
123
|
Aumento
|
14,60%
|
Comparando os dados de 2013 com 2012, verifica-se o aumento de 14,6%
na quantidade crimes violentos contra a vida na RMVA. Ipatinga ficou bem, pois,
diferentemente das demais cidades amostradas, apresentou uma redução de 5,17%
no indicador pesquisado. Santana do Paraíso exibiu um alarmante acréscimo,
seguida por Timóteo e Coronel Fabriciano também com majoração do indicador.
Depois
de organizados os dados nas formas de tabela (nº crimes em cada mês) e gráficos
foi possível concluir que o crimes violentos contra a vida: aumentam nos
primeiros meses do ano; no mês de junho há uma queda acentuada; mantêm-se em
patamares estáveis em julho, agosto e setembro. Nos gráficos abaixo é possível
detectar que o mês de maio de 2012 foi
atípico em Coronel Fabriciano.
No tocante à
faixa etária das vítimas, em 2013 encontramos 22 menores e 47 pessoas na classe
dos 18 aos 25 anos. Em outras palavras: 48,94% das ocorrências englobam pessoas abaixo
de vinte e cinco anos. Por quê? Seria isso razoável numa sociedade com baixo
índice de desemprego? Antes de tentar
encontrar uma resposta, vejamos como as mortes se distribuíram por bairros.
Analisando
apenas Ipatinga, em 2013, em primeiro lugar, encontramos Vila Celeste (6),
seguida por Planalto (5), Bom Jardim (5), Canaã (4), Vila da Paz (4), Esperança
(3), Iguaçu (3), Jardim Panorama (3), Veneza II (3), Barra Alegre (2), Bethânia
(2), Esperança (2), Canaãnzinho (2). Nos bairros Ayrton Sena, Caravelas,
Chácara Madalena, Chácara Oliveira, Ideal, Limoeiro, N. S. Graças, Nova
Esperança e Parque das Águas, em cada um, registrou-se apenas uma ocorrência.
Antes de
prosseguir, preciso confessar ao leitor que carrego na minha memória a leitura
da pesquisa elaborada pelo sociólogo Émile Durkheim, realizada no Século XIX, tendo
por tema o suicídio. Naquela época, Durkheim verificara que em muitos países da
Europa a quantidade de suicídios por habitantes aumentava embora nos períodos
pesquisados “o bem-estar médio tivesse melhorado e atingido todos os níveis da
hierarquia social”. A conclusão do sociólogo foi surpreendente: “O mal-estar
que sentimos não decorre de um aumento quantitativo e qualitativo das causas
objetivas de sofrimento; atesta, não uma maior miséria econômica, mas uma
alarmante miséria moral”. A degradação moral de uma sociedade seria uma
propulsora também dos crimes violentos contra a vida? Não tenho certeza, mas,
continuemos.
No tocante às
causas do aumento dos crimes violentos contra a vida, certamente, o leitor já
ouviu dizer: é a impunidade que estimula essa violência; precisamos de mais
segurança pública, mais viaturas; mais policiais, vagas nas cadeias etc., etc.
Será?
As pesquisas
da mundoeducação.com relatam que 35% da população brasileira vivem no bairros
marginalizados das grandes cidades. Diz ainda que nesses locais 21% das mortes
são provenientes de atos de violência. Seria, então, a pobreza a causadora
disso tudo? Não se pode assim concluir, porque se isso fosse verdade haveria
excessiva violência nos bolsões do sertão nordestino onde a miséria impera. Contudo,
num ponto parece haver consenso: a violência é um fenômeno predominantemente
urbano.
Segundo dados
divulgados (www.serasaexperian.com)
é nos espaços segregados que a violência prolifera. Ipatinga tende a confirmar
a hipótese, pois, em 2013, não se registrou uma ocorrência de homicídio no
Bairro das Águas, Castelo, Cariru, Cidade Nobre e Horto. Todavia, nesses
bairros houve muitos crimes contra o patrimônio (furto e roubo).
Arrisco-me a
dizer que não é com Polícia nem com cadeia que a onda de violência, na
modalidade de homicídios, será contida. Crescer, economicamente, não significa
necessariamente desenvolvimento, felicidade e firmeza moral. Não adianta tirar
tantos da pobreza, estimulá-los ao consumo sem lhes dar também uma referência
moral e ética, meio para torná-los aptos a resistir ao sedutor mundo da
criminalidade, dentre os quais, o do crime organizado.
Os aglomerados
urbanos expõem os jovens à brutal impessoalidade das relações (descobrem que são
uns nada) e favorecem o desagregar da família. Residir na periferia dos grandes
centros urbanos, receber do governo o mínimo existencial e ter um fictício
acesso à educação, saúde, oportunidade de trabalho e lazer podem levar o jovem
à frustração. Esta é a mãe da violência. O subemprego é tão frustrante quanto o
desemprego.
Penso que o
governo e a sociedade devem se organizar para chegar à periferia com programas
inteligentes que ajudem a estruturar moralmente as famílias. O jovem sem
valores desenvolvidos no seio da família é um candidato a marginal.
Finalmente,
observo que a pesquisa precisa ser aprofundada (motivação do crime, horário
etc.) e até contestada, se possível. Curiosamente, o jornal Estado de São Paulo,
na edição de 24/12/2013, assim divulgou: “Homicídio cai 30%, mas roubo de
veículos sobe 39% em São Paulo”. Esse fato merece ser estudado pelas
autoridades dos municípios da RMVA, pois poderão identificar alguma ação
aplicável à nossa região.
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