quinta-feira, 28 de julho de 2011

Artigo - Caminhões no Anel Rodoviário - Atividade de Risco

ELEFANTES E CARNEIROS NO ANEL RODOVIÁRIO.

* Artigo publicado no Jornal Diário do Aço; edição de 28/07/2011; pag. 10

Estranho. O número de acidentes automobilísticos no anel rodoviário de BH, depois da instalação dos radares, aumentou. Foram 1.511 acidentes, entre janeiro e junho de 2011, contra 1.412 verificados no mesmo período do ano 2010, conforme divulgou o jornal Hoje em Dia, na edição de 26/07/2011.

Novamente é preciso questionar: Estaríamos sendo eficazes na determinação das causas dos acidentes? As medidas implementadas para combater as causas do problema seriam adequadas para tal finalidade?

A lógica, diante da frieza dos números, não nos deixa alternativa: estamos errando na determinação da causa ou na proposição das medidas. Entretanto, as autoridades policiais relacionadas com o trânsito não dão conta disso, pois invariavelmente repetem que a causa dos acidentes é a IMPRUDÊNCIA do motorista.

Merecemos mais do que tão simplória explicação. Faz-se necessário investigar o potencial de risco inerente à estrutura do nosso trânsito e as características comportamentais que tornariam o homem médio da sociedade brasileira propenso a incidir em condutas imprudentes no trânsito.

Um fato chama nossa atenção: a presença constante de caminhões nos noticiários sobre acidentes de trânsito. Os caminhões estão, na maioria das vezes, relacionados com a causa dos acidentes fatais ou nestes envolvidos.
Sou usuário freqüente do anel rodoviário. Nele percebo que os condutores de caminhões, ônibus e similares comportam-se na estrada como se tivessem dirigindo um carro MILLE. Aproximam-se exageradamente da traseira dos carros pequenos. Forçam a passagem. Cortam outros caminhões nas subidas, eliminando a oportunidade que os veículos de pequeno porte teriam para compensar o longo tempo que ficam atrás dos caminhões. São elefantes colocados com carneiros no mesmo espaço e submetidos às mesmas regras de trânsito.

Pergunto: alguém sensato colocaria num mesmo cercado hipopótamos e coelhos? Claro que não. Entretanto, essa é a nossa realidade. Somos carneiros que transitam ladeados de elefantes. Comportamo-nos como carneiros, porque não exigimos que nossas autoridades criem regras especiais de trânsito para limitar o risco potencial que os caminhões de grande porte representam.

Admitir que um caminhão que transporta pesadas bobinas de aço possa transitar em curvas com a mesma velocidade imposta aos veículos de pequeno porte parece-me insensato. Qualquer frenagem brusca, de um ou de outro, é um convite ao acidente. Permitir que grandes caminhões circulem por estradas sem acostamento é desrespeitar o cidadão e colocá-lo em risco de morte.

Felizmente não estou sozinho. O sociólogo Roberto DaMatta, em pesquisa publicada em 2010, sobre o trânsito capixaba assim relatou: “a ausência de distinção entre funções dos diversos veículos e seus estilos de direção é outra fonte de acidentes e imprudências, contribuindo para a violência no trânsito”; “escapa aos motoristas entrevistados qualquer conotação negativa do veículo, como sua potência e sua capacidade para produzir danos e mortes”; há uma tendência de conduzir um ônibus como se fosse um automóvel.
Precisamos de regras diferentes de trânsito para veículos diferentes. Essa é a regra matriz constitucional: tratar desigualmente os desiguais.

Jorge Ferreira S. Filho. Advogado. Professor Universitário. Integrante do IAMG e da Comissão de Urbanismo da OAB/MG.

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