quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Artigo: Lula e Hawthorne


LULA e HAWTHORNE

* Publicado originalmente no Jornal “Diário Popular”, edição de 01/10/2010, pag. 2

Vou escrever sobre o Lula, mas quero advertir que não sou petista e muito menos admirador do “lulismo”. Apesar disso, não considero razoável atribuir aos programas sociais implementados pelo governo Lula, como o “bolsa família”, a aptidão de provocar o efeito similar ao “voto de cabresto” e, por consequência, transferir votos de Lula para Dilma.
Qualquer um que chegasse ao Palácio do Planalto não cometeria a loucura de extinguir o “bolsa família”, pois isso provocaria um levante social. Ao contrário, se a oposição chegar ao poder terá que ampliar qualitativa e quantitativamente esse programa. Portanto, não é pelo medo de perder as vantagens desses programas que as pessoas beneficiárias deixariam de votar em candidatos não alinhados com o Presidente. Assim, me aventurei à pesquisa da causa desse fenômeno e encontrei uma interessante experiência verificada na cidade de Hawthorne (Ilhinois – USA), na fábrica de Western Electric Companhy, nos idos de 1924.
A experiência visava identificar como a melhoria na iluminação do ambiente de trabalho aumentaria a produtividade do setor. Dois grupos foram selecionados. No primeiro a iluminação foi aumentada. No segundo, o grupo de controle, não se alterou a iluminação. Como se esperava, a produtividade aumentou no local onde trabalhava o primeiro grupo, mas, surpreendentemente, aumentou-se, também, a produção, no grupo de controle. Como explicar isso?
Elton Mayo, responsável pela pesquisa, concluiu que a produtividade não estava relacionada com aspectos físicos da experiência, mas, sim, com a resposta humana. Os operários, ao serem entrevistados pelos pesquisadores sentiram-se importantes para a companhia. Relatou Paul Hersey que as relações desenvolvidas no experimento “provocaram sentimentos de sociabilidade, competência e realização” entre os operários.
Acredito ser essa, uma hipótese razoável para o fenômeno brasileiro em estudo, ou seja, o fator humano provocado pelo programa “bolsa família”. Ninguém acredita que o valor mensal recebido tire, diretamente, a família beneficiária da linha de pobreza. Entretanto, expressiva parte do eleitorado vem passando pela prazerosa e edificante experiência de se sentir importante para o outro; para a sociedade em que vive. Irrelevante se existiu ou não uma intenção subliminar quanto ao “bolsa família”. Funcionou.
Talvez seja essa a lição que ficou para o PSDB; excesso de teoria e boas intenções, mas sem a humildade da experiência com o “chão de fábrica”. Soa distante, a lição de Fernando H. Cardoso, que diz “os saberes e as práticas do cotidiano e da produção da vida...estão de fato abertos à participação e ao controle de todos” (A construção da Democracia).

http://jorgeferreirablog.blogspot.com
Jorge Ferreira S. Filho. Advogado - Professor de Direito do UNILESTE.
Presidente da Comissão de Urbanismo da OAB/MG - Ipatinga.

Nenhum comentário:

Postar um comentário