sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O DIA DO PROFESSOR

O DIA DO PROFESSOR E SEU ATUAL STATUS
 
Certamente haverá muitos parabéns aos que exercem a difícil, essencial e honrosa profissão do magistério. Nas escolas não faltarão cerimônias de homenagens; churrascos; confraternizações e ritos correlatos. O discurso político convergirá para exaltar professores e professoras. Entretanto, este discurso valorativo ressoará  divorciado da realidade. Explico:
No Brasil, nas três últimas décadas, o ensino privado tornou-se a principal via pela qual a sociedade educa seus filhos. Durante os períodos de recessão da nossa economia, o ensino privado, como atividade empresarial, emergiu como uma das poucas oportunidades viáveis de negócio. Com isso, investidores, sem nenhum envolvimento anterior com a atividade educacional lançaram-se neste lucrativo negócio. Cresceu a oferta de vagas em proporção maior que a procura. As escolas passaram a disputar os potenciais alunos. Uma atividade de mercancia: “matricule-se conosco e ganhe um tablet”.
Nas cerimônias de formatura o discurso final dos reitores ficou monotônico: “agradeço aos formandos por terem escolhido a nossa escola”. O aluno elevou-se à categoria de consumidor; polarizado em direitos em detrimento de suas obrigações.  Na outra ponta, o professor é reduzido a mero proletário do ensino. Um centro de deveres despojado dos mais elementares direitos, dentre os quais o de receber um salário condigno de sua responsabilidade — transmitir ordenadamente o conhecimento objetivo acumulado pela humanidade; transmitir valores da sociedade e construir  um cidadão.
Não sou pessimista, como fora Schopenhauer,  quando escreveu que na Alemanha do século XIX “os professores ensinam para ganhar dinheiro e não se esforçam pela sabedoria, mas pelo crédito que ganham dando impressão de possuí-la. E os alunos não aprendem para ganhar conhecimento e se instruir, mas para poder tagarelar e para ganhar ares de importantes. A cada trinta anos, desponta no mundo uma nova geração, pessoas que não sabem nada e agora devoram os resultados do saber humano acumulado durante milênios”.
Há, e são muitos, professores comprometidos com a missão social de sua profissão. Esta se resume, parafraseando Celso Vasconcellos, em atuar na promoção do conhecimento do aluno, como via de formação de sua consciência social, do caráter e da cidadania. Porém, essa categoria de mestres luta contra uma adversa realidade, pontuando Ítalo Meneghetti que “por todos os lugares da universidade, encontramos ambientes de disputas e cobiças”.
Com muita frequência, o professor valorizado pela instituição de ensino é aquele que se faz passar de amiguinho dos alunos, relacionando com estes, como descreve Meneghetti, “por meio de e-mails, telefonemas, encontro em barzinhos nos fins de semana” etc. São professores que desprezam as bibliotecas e “semestre após semestre” entulham os alunos com “as mesmas e ensebadas cópias nas precárias pastinhas do xérox da faculdade”.
Saúdo meus colegas professores que abraçam o ensino como atividade capaz de transformar o aluno, inserindo-o num espaço dialético e construtivista. Não há aprendizagem sem que o aluno possa interagir com o objeto do seu conhecimento. A sala de aula não é um fim em si mesmo, mas um instrumento para melhorar as pessoas. O ensinar somente faz sentido se for capaz de transformar o aluno em alguém apto a compreender, usufruir e transformar a realidade que nos circunda. Alguém com mais conhecimento e menos diploma; mais juízo crítico e menos decoreba. Alguém que antes de querer se sair bem queira viver o bem proporcionado por uma sociedade democraticamente construída.
 
 
Jorge Ferreira S. Filho. Advogado. Professor universitário. Presidente da Seccional Vale do Aço do Instituto dos Advogados de Minas Gerais. E-mail professorjorge1@hotmail.com

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