terça-feira, 12 de abril de 2011

A TRAGÉDIA EM REALENGO





A TRAGÉDIA EM REALENGO

* Artigo publicado no Jornal "Diário do Aço", edição de 12 de Abril de 2011, pag. 07.

Estamos estarrecidos. Declaramo-nos, perplexos. Pensava-mos que isso somente aconteceria nos Estados Unidos. Aos pais das 12 crianças assassinadas na Escola Municipal Tasso da Silveira, todos os brasileiros, consternados, enviam manifestações de consolo. O ocorrido, porém, é inconsolável. Apesar disso, a tragédia deve ser discutida, analisada, pensada e, quiçá, deflagre um conjunto de posturas eficazes que possa transformar a realidade na qual vivemos.


Psicólogos falarão sobre a personalidade psicótica do assassino, mas nada dirão sobre como identificar um potencial assassino ou a respeito da possibilidade de agirmos preventivamente evitando que a violência se consuma.


Especialistas em segurança vão dizer que precisamos de mais policiamento, controle na entrada das escolas, instalação de detectores de metais, vigilância eletrônica por meio de câmeras etc. Não faltarão também aqueles que explicarão a causa do comportamento do assassino como um reflexo da exploração da violência pela mídia.


Temo que a discussão, mais uma vez, desvie de seu foco principal: a raiz da violência no ser humano.


Recordo-me dos escritos de Lauro de Oliveira Lima, a época do 1º Congresso Brasileiro Piagetiano, defendendo a tese de que a violência é mera resposta à frustração. Ensinava o mestre que discutir se a televisão e o cinema seriam os geradores do crescimento da violência urbana não passaria de “mera diversão”, para não ter que enfrentar o cerne do problema: a frustração.


O ser humano somente imita se o modelo imitado “não é dissonante da estrutura global” do imitador. Violência não atrai violência, mas, sim, o violento. Este pode, às vezes, ser fruto da desigualdade social.


A pobreza, quando é muita, tira até a capacidade de reação. É o mendigo pacífico, que ninguém teme. Entretanto, as camadas pobres, que diuturnamente tangenciam reais possibilidades de acesso aos bens sem os conseguir, são seres frustrados. Daí, a violência. Frustra-se, também, pela marginalização preconceituosa e por meio de outros comportamentos sociais semelhantes.


Quem nasce na riqueza também pode ser violento. Criado na opulência, com todas as necessidades prontamente atendidas, eles crescem acreditando que tudo podem fazer. Não têm estrutura para suportar a frustração e quando frustrados, em seus menores desejos, respondem com violentos comportamentos (queimam índios; espancam domésticas, matam os pais, como no caso Richtoffen).


Não podemos andar com seguranças do nosso lado 24 horas por dia. Nem podemos colocar um policial militar em cada esquina – o custo seria inviável para a sociedade. Entretanto, podemos caminhar, sim, para uma sociedade mais cooperativa, em que as pessoas se preocupem em acolher e entender as diferenças, distribuindo igualmente as oportunidades e estimulando o convívio.


Quem se sente acolhido, integrado, vislumbrando reais perspectivas de oportunidades e de crescimento tem menor probabilidade de se tornar violento. Esse é o desafio aos educadores e aos governantes.


Como concluiu Lauro, “Todo ato de violência responde a uma ameaça, real ou fictícia, ao espaço vital”. Dar atenção à necessidade do outro que está próximo de nós, talvez seja mais eficaz que um detector de metais.


Jorge Ferreira S. Filho. Advogado; Mestre em Direito pela UGF /RJ; Associado ao Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM) e ao Instituto dos Advogados de Minas Gerais (IAMG). E-mail professorjorge1@hotmail.com

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